Aeroportos

Paulo Leminski - Já disse


Aeroportos, o sítio de passagem para milhões de pessoas, mas em que nenhuma fica. 

Houve uma altura em que senti que lá ficava mais tempo do que em casa, fosse o que fosse o significado de casa nessa altura, entre cafés, sofás, chão e portas de embarque, o país já nem tinha nome. Era só um aeroporto.

Não tinha a magia de partir à descoberta, porque a descoberta que queria ficava para trás, nem tinha a magia do regresso, porque era um regresso de braços vazios.

Mais um dia, mais um avião, mais caras desconhecidas - alguma simpáticas, algumas divertidas, algumas sem qualquer expressão - das que se conhecem e deixam de conhecer no par de horas anterior e de duração do voo. 

Olhei muitas vezes para trás, na partida, antes de passar a porta em que já não se pode dizer adeus. Havia sempre um peso em mim, à espera que aparecesses e viesses também, como falámos tantas vezes, mas nunca aconteceu.

Olhei ainda mais em redor, na chegada, para o mar de pessoas ansiosas à espera do seu "alguém" que tinha aterrado e estava de regresso a casa. Sabia que não estavas, sabia que não estava mais ninguém (porque o trabalho era meu e ninguém tinha de perder tempo), sabia... só não queria acreditar. 

A magia dos aeroportos fica nesses momentos. As despedidas e os reencontros. Os até já, de coração apertado, os abraços de alívio que dizem tão bem o "finalmente chegaste". 

Assisti a muitos momentos destes e vivi-os pelos outros, pelos que estavam à volta, como se estivesse a assistir a um daqueles filmes lamechas, mas na vida real. E que saudades que tinha tuas. E que vontade de continuar à espera, numa esperança inabalável em que havias de aparecer.

Acabava por engolir em seco, sorrir pelos momentos a que tinha assistido naquele instante, pegar na mala e ir. Era só mais uma viagem e era hora de ir para casa, mesmo que casa fosse num alguém que não estava lá.


M

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